domingo, 13 de junho de 2010

O País de chuteiras

Por Catiane Magalhães

Se alguém tinha dúvidas agora não tem mais: futebol é mesmo a paixão nacional. Os recordes de bilheteira em jogos de clubes de segunda e terceira divisão e, literalmente, maus das pernas, comprovam isso. Fiéis e fanáticos torcedores lotam as arquibancadas dos estádios para oferecer apoio moral aos times do coração, mesmo que estes não correspondam as suas expectativas e, sobretudo, a sua paixão.

Em ano de Copa do Mundo esse sentimento fica mais veemente. A ponto de pautar e parar um país inteiro. Quem dera fosse exagero, mas não é! Os escândalos políticos, a economia, inflação, as descobertas científicas, o mundo da moda e qualquer outra notícia ficam em segundo plano quando o assunto é o mundial.

O Brasil inteiro respira a Copa. E o inteiro aqui não é força de expressão, já que nesta época aparecem os torcedores bissextos, atraídos pelo poder de mobilização e de sedução do mundial. Aliás, patriotismo brasileiro só existe a cada quatro anos e dentro de um campo de futebol. Afora isso, os filhos deste solo não fazem qualquer esforço para defender sua mãe gentil.

Só mesmo uma paixão nacional para mobilizar o povo brasileiro em prol de uma causa: mais um título. Por ele, é possível até rever os “cara-pintadas”. Não! Não estou misturando futebol com política. Tampouco me referindo ao movimento estudantil do início da década de 90 contra a corrupção, mas aos milhares de brasileiros que se pintam de verde e amarelo para, diante da televisão, assistir aos jogos. Esse mesmo povo que, também pela televisão, tomam conhecimento, de forma passiva, das mazelas do País e a nada reage.

E como adoramos (e até acreditamos) em desculpas esfarrapadas, já conhecemos o discurso: “um povo sofrido que vê no futebol a esperança e o caminho da felicidade”. E vê mesmo! Basta a bola rolar, ou melhor, antes mesmo disso acontecer para ignorar todos os problemas de ordem social, política e econômica.

Tudo fica azul! E verde, amarelo e branco também! O país ganha novas cores, o povo, mais confiança e estímulo. Na imprensa, as editorias de polícia e política perdem espaço para a de esporte em número de manchetes e notícias repercutidas. Não se fala em outra coisa: Jabulani é, literalmente, a bola da vez.

Ela só divide espaço com termos como vuvuzelas, bafana bafana e outros tantos que remetam à Copa da África do Sul. Aliás, sorte a daquele país que deixou de ser sinônimo de miséria, desigualdade, fome, preconceito e AIDS para ser o centro das atenções do mundo inteiro. Como nada mais me resta além de torcer, ficarei diante da televisão à espera de um resultado favorável. Não no placar, mas para que após o dia 11 de julho (final do mundial de 2010) as lentes das câmeras de toda a imprensa e os olhos do universo continuem voltados para lá.