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Banner divulgado na internet, com o intuito de boicotar a novela |
Por Catiane Magalhães
Não, esse texto não faz nenhuma
referência ao reggae homônimo de Edson Gomes, mas à tentativa de queimar, ainda
na largada, o novo folhetim global do horário nobre. Bastou o primeiro capítulo
de Babilônia, novela de Gilberto Braga em parceria com Ricardo Linhares e João
Ximenes Braga, ir ao ar para o exército de conservadores e fundamentalistas
entrar em ação, tudo em nome da moral e dos bons costumes.
O que não faltou foi
manifestações de indignação pelas cenas de traição, morte e, sobretudo, de
beijo gay logo na estreia. Sim, o beijo protagonizado por duas divas da
teledramaturgia brasileira, Fernanda Montenegro e Natália Timberg, chocou mais
que qualquer outra cena.
A repercussão foi tanta que, nas
redes sociais, o tema posicionou-se entre os mais citados. Durante toda a
exibição da trama, o termo Babilônia ficou nos trending topics do twitter. Como
nada é unânime, houve quem gostasse, aplaudisse, defendesse e elogiasse, claro!
No entanto, o que chamou a minha atenção foi a histeria em prol de um beijo,
que, ao meu ver, nada mais é que uma manifestação de amor e afeto. E olha que
esta não foi a primeira vez na história da televisão deste país que duas
pessoas do mesmo sexo se beijam.
Aliás, nunca a união homoafetiva
esteve tanto em pauta como agora. A ponto de me levar a desconfiar que as
últimas abordagens e enquadramentos do tema tivessem habituado a população brasileira
a conviver, dentro e fora da telinha, com a diversidade de gênero. Ledo engano!
Aí eu me pergunto: cadê a
militância que defendeu e torceu pelo casal Clara e Marina, vivido pelas
atrizes Giovanna Antonelli e Tainá Müller, na novelinha água com açúcar de
Manoel Carlos, Em Família? Será que o amor das duas personagens era mais
aceitável porque ambas eram jovens e bonitas? Ou porque o imaginário machista
alimenta a fantasia sexual de um dia deleitar-se com duas mulheres de biotipo
semelhante aos das atrizes?
Só posso pensar que o
estardalhaço de agora se deve ao fato de o casal gay do momento ser
interpretado por duas senhoras. E a minha pergunta é: em que isso tira o mérito
e a beleza do amor? Pelo contrário, só agrega. Afinal, o amor envelhece, assim como
os seus amantes. Mas, em tempos de sentimentos e relações tão efêmeras, é mesmo
possível que ninguém mais acredite em um amor duradouro, principalmente entre homossexuais, normalmente associados à promiscuidade.
Ok! Eu sei que existem os que
criticam porque não concebem esse tipo de relação, seja por princípios morais
ou religiosos. Não que estas pessoas não tenham o direito de expor os seus
posicionamentos, mas daí se mobilizarem para solicitar a retirada do folhetim
do ar é muito radicalismo para a minha pouca compreensão.
A mesma democracia que lhes oferece a liberdade de se expressar, vomitando ódio e
hipocrisia em suas redes sociais, lhes dão também o direito e a opção de mudar de canal,
ou de simplesmente desligar a tevê, para não ver cenas que consideram uma afronta
à família, ou, ao menos, ao que chamam de “modelo ideal” de família, já que
desconhecem a legitimidade de outras estruturas familiares.
Lamento desapontar os fundamentalistas
que se escandalizam diante de uma manifestação de amor, só porque é um amor
contrário aos seus padrões, mas relações homoafetivas não existem apenas dentro
das telinhas. Elas fazem parte do nosso cotidiano: estão nas praças públicas,
nos shoppings centers, nas escolas, nos ambientes de trabalho e até nas igrejas,
independentemente do credo.
Ou seja, meus caros, se vocês não
querem conviver com essa realidade, criem uma bolha que os protejam dos impuros
e mudem-se pra lá, levando suas criancinhas, assim como já fazem ao retirá-las da
sala para não ver o beijo gay na televisão. Do contrário, em algum momento da vidinha delas,
elas irão se deparar com uma cena dessas, sem ter a opção de acionar o controle remoto para
mudar de canal.
Enquanto o beijo de Teresa e
Estela (Fernanda e Natália) disputava espaço na mídia com outras notícias, um
fato me escandalizou: a falta de repercussão, de comoção generalizada ou de mobilização
dos defensores da família diante da notícia de que um adolescente de 14 anos teria matado outro de 17 por causa de uma dívida de R$ 30. Que mundo é esse onde um beijo é mais nocivo e desencadeador
de revolta do que algumas facadas? Mais amor, por favor!
Patrocinador de Baixaria
Não bastasse a atuação dos guardiões da moral e dos bons costumes, com a tentativa de boicotar a novela, vem o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), combatente oficial das relações homoafetivas, colocar a cereja no bolo. Através do seu perfil no facebook, ele convocou seus seguidores – basicamente a comunidade evangélica – a não comprar, vender ou consumir produtos da Natura, já que a marca é um dos principais patrocinadores da novela da Globo que “esbofeteia a família brasileira com uma subliminar mensagem anti-cristã” (sic).
Patrocinador de Baixaria
Não bastasse a atuação dos guardiões da moral e dos bons costumes, com a tentativa de boicotar a novela, vem o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), combatente oficial das relações homoafetivas, colocar a cereja no bolo. Através do seu perfil no facebook, ele convocou seus seguidores – basicamente a comunidade evangélica – a não comprar, vender ou consumir produtos da Natura, já que a marca é um dos principais patrocinadores da novela da Globo que “esbofeteia a família brasileira com uma subliminar mensagem anti-cristã” (sic).
Se a Natura irá retirar o seu
patrocínio eu não sei, mas que certamente sofrerá os efeitos em suas caixas
registradoras, isso vai. Quem duvida, afinal, que alguns dos milhares de amigos
virtuais de Feliciano, tão alienados quanto ele, obedecerão o vosso mandamento?
Nessa luta entre o certo e o
errado, Deus e o Diabo, vale tudo. E quando faltam argumentos plausíveis, a estratégia é atingir o bolso dos "financiadores" da baixaria, usando os seus consumidores para boicotar a marca. Então, irmãos, na falta de dinheiro
para usar Lancôme, o jeito é fazer como a Marina Silva e recorrer à beterraba
para se pintar, pois produto da Natura não pode!
E para contrapor a imagem que ilustra esse post, símbolo da tentativa de boicote à novela, amplamente divulgada pela legião de moralistas conservadores, eu convoco os meus seguidores (que não são tantos quanto os de Feliciano) a dizer não ao preconceito e sim a todas as formas de amor.
E para contrapor a imagem que ilustra esse post, símbolo da tentativa de boicote à novela, amplamente divulgada pela legião de moralistas conservadores, eu convoco os meus seguidores (que não são tantos quanto os de Feliciano) a dizer não ao preconceito e sim a todas as formas de amor.