quarta-feira, 26 de maio de 2010

Política no Brasil é coisa séria, tanto quanto piada

Por Catiane Magalhães


Como disse o ex-senador Antônio Carlos Magalhães (ACM), numa de suas sábias declarações, “mais importante que o dinheiro é o poder”! A afirmação explica e justifica o interesse de muitos por um cargo que lhes proporcione mais visibilidade e status do que um salário oficialmente atrativo. Digo oficialmente porque as cifras impressas no contracheque, por mais significativas que sejam, tornam-se praticamente irrisórias diante da possibilidade de multiplicação proporcionada pelo poder propriamente dito.

Trocando em miúdos, ser poderoso é também garantia de um polpudo salário oficioso. E não sou eu quem diz, os gastos com campanhas políticas estão aí para comprovar que, teoricamente, os investimentos são bem maiores que os retornos.

Sendo assim, será por que há tanta gente que não quer largar as tetas da mãe gentil? E outros tantos disputando, à tapas e farpas, uma vaguinha para sugar e mamar nos seios da pátria amada? Se o médium Chico Xavier estivesse neste plano, com certeza ele psicografaria a resposta dada pelo cacique baiano. Aliás, dadas às devidas distinções do contexto, da época e, é claro, do comportamento, vocabulário, postura e compostura, ACM e Serginho (Ex-BBB) disseram a mesma coisa sobre dinheiro versus poder.

E só citei o Serginho para falar dos colegas, ex-BBBs, que manifestaram interesse pela política. No próximo pleito, por exemplo, possivelmente teremos dois brothers como opção nas urnas: Kléber Bambam (vencedor da primeira casa) e o baiano Jean Willys (que levou o prêmio na quinta edição do reality show).

O primeiro, como já era de se esperar, causou polêmica ao declarar que pretende estudar para aprender fazer política e lidar com pessoas, tendo como principal “mestre” o cunhado veterinário. Errado? Não! Há profissão mais adequada para cuidar de burros? Sinceramente, um povo que elege representantes do naipe de Frank Aguiar, Clodovil, Leo Kret, Netinho de Paula, entre outras “celebridades”, sob o pretexto de protestar pela falta de opção, merece mesmo ser cuidado e receitado por um aspirante a político, aprendiz de veterinário.

O segundo, por sua vez, conta com o voto e a torcida do público gay e simpatizantes para repetir nas urnas a façanha de sair vitorioso, como o fez no Big Brother. E desta vez, o prêmio vai bem além do um milhão de reais, com uma vantagem: a casa que o proporcionará não é, nem de longe, a mais vigiada do País e por mais que façam, ninguém nuca vê ou sabe de nada!

Engana-se quem pensa que as opções eleitorais passam apenas pela fauna. Nossa flora também dá o ar da graça na política, representada pela Mulher Samambaia, e ainda passa pelo setor de hortifrúti, com a Mulher Melão. Se ser feio ainda está na moda eu não sei, mas que entrar para a política agora é uma tendência, isso é. Até a fanqueira Taty Quebra Barraco, autora da pérola, quer garantir a sua pontinha, ou melhor, sua vaguinha!

Que o diga a “delegata” Paty Nuno, que, movida pelo clima de pré-campanha, compareceu ao velório de um amigo jornalista mais enfeitada que jegue na lavagem do Bonfim, ou melhor, como diria uma célebre conhecida, “toda trabalhada no ouro e nos paetês”, com correntes capaz de aprisionar meia dúzia de bandidos, tamanha era o comprimento e espessura dos apetrechos dourados e perolados. Já se achando a estrela eleita esqueceu a cerimônia fúnebre e começou a distribuir sorrisinhos, tchauzinhos e beijinhos aos futuros eleitores. Mico maior que esse foi desistir do cortejo rumo a crematório por não conseguir se equilibrar no salto agulha que teimava em prender-se no piso nada regular do cemitério.

Pelo visto, o caminho direto das delegacias para o palanque não será percorrido exclusivamente pela “delegata”. O seu colega, “doutor” Deraldo, o quase sócio do programa Na Mira, da TV Aratu (SBT), também manifestou interesse em atravessar essa ponte. Este certamente não disputará voto com a colega de profissão, mas com o ex (?) apresentador do programa, o qual há muito alimentou com notícias, como quem o faz com o filho. Sim, Uziel Bueno também é provável candidato a deputado. Neste caso, como diria o próprio, o sistema é bruto, já que o eleitorado é o mesmo!

Trégua mesmo deu o também apresentador, de programa igualmente popularesco, da emissora concorrente (TV Itapoan/Record), Raimundo Varela. Após várias tentativas de entrar para o mundo da política, inclusive com uma candidatura e posterior retirada da mesma, ele desiste definitivamente do sonho. Pelo menos, diretamente.

“Seu Valera”, como é chamado, pretende realizá-lo através da atual esposa. E, mesmo antes da campanha eleitoral ser autorizada, ele saiu na frente, dando a largada, embora nos bastidores, para difícil tarefa de transferir parte da sua popularidade à amada Sheila. Alguém pensou que era pura caridade, e sem qualquer propósito, aquela distribuição de peixes que a moça fez em plena Semana Santa? Isso sem falar da simbologia que o “bichinho” exerce no Partido Social Cristã (PSC), sua possível legenda.

E a lista é extensa. Entre brothers, cantores (dos mais variados ritmos), apresentadores, delegados e mulheres gostosonas, que ganharam evidência devido à seus atributos, ainda sobrou um lugar para o estilista Ronaldo Ésper, que espera abocanhar a vaga deixada pelo colega de profissão, Clodovil Hernandes, morto no ano passado. Quanto à candidatura de Ésper suponho que não precisamos temer, pois ele já mostrou que só rouba defuntos.

Os demais já podem começar a pensar nas propostas e promessas que farão para convencer seu eleitorado, isso é se não tiverem demasiadamente ocupados com a cruel dúvida de não saber que cor pintar as paredes de seus gabinetes (caso sejam eleitos) e que banheiro utilizar. Esta última, é claro, se aplica apenas àqueles com dúvidas sobre a própria sexualidade.

Depois ainda querem me convencer que política nesse país é coisa séria. Aliás, convencida já estou desde que ouvi um humorista global dizer que fazer os outros rir é coisa muito séria e que, portanto, não há seriedade maior que piada. Olhando por esse lado, faz todo sentido!

O que não é visto não é lembrado

Por Catiane Magalhães


Brasileiro tem mania de grandeza. Adora ostentar títulos de maiores e melhores em tudo. Melhor futebol, maior traseiro, maior carnaval e melhor novela. Para dar consistência a este último, tem até discurso pronto, que tornou-se clichê na boca do povo: “o Brasil está para a novela como Hollywood para o cinema”.

É bem verdade que a teledramaturgia brasileira (leia-se os novelões da Globo, já que nenhuma outra emissora conseguiu destaque no segmento) faz o maior sucesso mundo a fora. Não é à toa que vários países compram, a preço de ouro, o direito de reproduzir muitas delas.

Nem por isso torna-se motivo de orgulho, já que este tipo de narrativa é pouco valorizada por países desenvolvidos, com população de média e alta instrução. Em português claro estou dizendo que novela é, essencialemente, produto destinado a um povo com elevadas taxas de analfabetismo funcional.

Por outro lado, a novela é também um dos nossos poucos produtos democráticos, pois consege pautar a vida de boa parte dos brasileitos, independentemente de classe social e grau de instrução. A ponto de fazer o telespectador confundir realidade com ficção, levando para suas vidas não só a moda e o vocabulário da telinha, mas, e principalmente, o drama vivido pelos personagens. Em muitos casos, inclusive, o debate sai das salas das residências para as redações dos veículos de comunicação, tornando-se pauta para a imprensa.

Quem não se lembra das matérias sobre novas tecnologias de segurança que antecederam a estreia de Tempos Modernos? Na ocasião, compararam até o fictício Titan com um real edifício em Dubai, nos Emirados Árabes, considerado o mais seguro e vigiado do mundo.

Mas nenhum tema de novela mereceu mais destaque que a questão da acessibilidade aos cadeirantes durante os oito meses que Viver a Vida, de Manoel Carlos, esteve no ar. Como brasileiro tem memória curta, mal a novela acabou, o país inteiro, que compartilhou do drama de Luciana, personagem de Alinne Moraes, já esqueceu das dificuldades enfrentadas pelos cadeirantes da vida real.

Engraçado como temáticas que são batidas e rebatidas diariamente simplesmente desaparecem quando a trama que as abordam chega ao seu capítulo final. E agora não me refiro só aos veículos de comunicação, mas também ao telespectador, que elegeu o personagem como seu favorito, que levou para casa o seu drama, viveu, chorou e sofreu junto com ele, e que agora o substitui pelo mocinho(a) sofredor(a) do atual folhetim.

Assim foi com a leucêmica Camila, de Laços de Família; o cego Jatobá, de América; os alcóolatras Santana e Orestes, de Mulheres Apaixonadas e Por Amor, respectivamente; a excepcional Clara, de Páginas da Vida, e tantos outros que encarnaram algum drama, na ocasião amplamente debatido, mas agora ligeiramente esquecido.

Todos estes temas foram pautas, motes de campanha politicamente corretas. E hoje, alguém vê ou lê uma linha sobre algum deles? A bola da vez é a reencarnação, abordada na novela Escrito nas Estrelas. Parafraseando o presidente Lula, já que também o termo está na moda, “nunca na história desse país”, se falou tanto em espiritismo como agora.

A temática é abordada até por pregadores de outras religiões, enquanto as outras entram pelo processo de amnésia parcial dos mesmos telespectadores que um dia as deram audiência. Quem sabe quando a trama for reprisada no vespertino Vale a pena ver de novo, tais assuntos não voltem à tona? Com certeza, o Vídeo Show dará um jeitinho de ressuscitar o defunto.

O outro lado da moeda



Por Catiane Magalhães

Parafraseando o presidente Lula, nunca na história desse país um feriado nacional foi tão inexpressivo como o 1º de maio – Dia do Trabalho –. E não vou atribuir a culpa ao calendário, por ter caído num sábado, dia de folga para a maioria dos trabalhadores, exceto aos que atuam no comércio, indústria e serviços de emergência. Ainda que caísse em plena segunda-feira, chamada de ‘dia de branco’, iria, do mesmo modo, passar pálido e despercebido para os trabalhadores ávidos por um ócio, seja para descansar ou para servir de plateia de manifestações em dia como este.

Mas a história parece ter sido apagada e o Dia do trabalhador transformado em um feriado qualquer. O motivo? É que os manifestantes mudaram todos de lado. Eles (os movimentos de esquerda), que historicamente sempre estiveram na condição de estilingue pronto a dar a primeira de tantas badogadas, experimentam a estranha sensação agridoce de está na condição de vidraça. Sim, agridoce por ter necessariamente que experimentar do mel e do fel que o poder proporciona, e, diga-se de passagem, nem sempre na mesma proporção.

Afora pequenos e isolados movimentos, pouco se viu ou ouviu falar das reivindicações trabalhistas promovidas pelos sindicatos de todas as classes. Também pudera, é feio e pega mal fazer pressão e cobranças a companheiros de velhas e longas caminhadas. Os mesmos que há pouco tempo faziam a mesma marcha, os mesmos pedidos, num discurso afiado e dedos apontados para todos os erros e defeitos cometidos e acometidos pelos seus opositores. Na ocasião, ditos governo.

Engraçado que ao trocar de lado esses mesmos companheiros não enxerguem a solução para os velhos e conhecidos problemas. Pior, que adotem discursos, posturas, comportamentos e medidas antes amplamente criticados.

Pois é, o atual governo provou do próprio veneno, talvez por não acreditar que um dia chegaria realmente ao poder. E agora, embora nos bastidores e discretamente, ou melhor, por debaixo dos panos e dos tapetes, brigam entre si, já que pensamentos e interesses divergem dentro do mesmo grupo.

E nesse “fogo amigo” travado entre os companheiros, muitos já estão jogando a toalha, ou melhor, deixando as camisas e bandeiras de lutas e causas que defenderam por toda a vida para associarem a novos companheiros, já que os antigos não são mais reconhecidos em seus discursos, comportamentos e interesses.

(Quase um mês depois, mas finalmente atualizando o blog)