
Por Catiane Magalhães
Soa paradoxal, mas não é. Tem gente que precisa morrer para viver. Neste caso, para reviver no mundo midiático, onde diariamente toneladas de fatos e factóides surgem e desaparecem com a mesma velocidade, bem como seus protagonistas.
Osama Bin Laden é um desses que a morte o ressuscita. Explico: quando ele já havia praticamente morrido no imaginário das pessoas, por se achar que há muito ele estivesse morto de verdade, eis que vem os Estados Unidos e o traz de volta para as telas e capas dos principais noticiários do mundo. O irônico é que esta mesma imprensa já o teria matado ainda em vida, se é que me entendem.
Por isso, em tempos de acontecimentos pouco relevantes para os noticiários nacional e internacional, o desencarno real de Bin Laden é prato cheio para os veículos e banquete para consumidores de notícia.
A verdade é que a morte por si só já desperta interesse na humanidade, seja pelo medo que ela causa, seja pela certeza de não poder escapar dela. Quando a ‘vítima’ é ninguém menos que o homem mais procurado do planeta, ela é sinônimo de audiência garantida.
Nunca na história do mundo um assunto foi tão abordado nos veículos de comunicação e nas redes sociais. O episódio ganhou uma edição extra do Plantão da Globo, interrompendo a programação do fim do domingo, para o pronunciamento oficial do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciar o resultado da operação que pôs fim à caçada da década.
No dia seguinte, não se falava em outra coisa. A lua de mel do príncipe recém-casado e qualquer outro assunto perdeu a importância diante da mais fresca notícia. A edição do principal telejornal do Brasil, o JN, foi toda dedicada ao acontecimento. Nem mesmo a tragédia de Realengo mereceu tanta exclusividade na bancada do casal global, só para citar um atentado mais próximo e recente.
E o padrão global não deixou nada passar. O fato foi explorado em todos os enquadramentos e enfoques possíveis e imagináveis, desde o início: o atentado de 11 de setembro ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington, até o desfecho da operação, em uma casa de porte médio, anunciada como mansão para a realidade da cidade paquistanesa Abbottabad.
Mais que a morte em si, o que surpreendeu foi a localização esconderijo. Enquanto o mundo inteiro imaginava que homem mais procurado do mundo vivia (se é que tinha vida) em cavernas e montanhas entre a fronteira do Paquistão com o Afeganistão, o temido terrorista estava há poucos metros de uma área militar do Exército paquistanês. Como bem disse um analista americano, ele estava escondido à vista de todos.
O que chamou atenção, entretanto, foi o desencontro de informações nas mais diversas versões apresentadas pela Casa Branca. Primeiro noticiou-se uma operação marcada pela resistência e troca de tiros. Depois, anuncia-se que o homem mais temido do mundo não teve tempo de se defender porque estava desarmado. A identidade de todos os mortos também não ficou clara. A primeira divulgação dava conta de que dois homens, um filho e a esposa estariam entre as vítimas. Mais tarde a essa mesa esposa migrou para a lista de feridos, sendo atingida por tiros nas pernas.
Não demoraram a circular na internet fotos do que seria o corpo de Bin Laden morto, mas tão logo a falsificação das imagens foi descoberta, aumentando ainda mais as dúvidas sobre a veracidade da operação. Os questionamentos são múltiplos: como é possível invadir o espaço aéreo de um país sem ser notado? Como foi tão fácil e rápido executar todo o plano sem chamar atenção?
E as suspeitas só aumentaram na medida em que os Estados Unidos se contradiziam e recusavam a apresentar imagens da operação. Para a lei, sem corpo não há crime, e trataram logo de dar fim a este, jogando-o no mar da Arábia, conforme anunciado pelos Estados Unidos, que se defendeu dos futuros castigos dizendo que respeitou todos os rituais do Islã antes da cerimônia.
A justificativa não convenceu. Nem aos que comemoraram, nem aos que lamentaram. Afinal, quando se ganha o troféu o mais óbvio é exibi-lo e não ocultá-lo. E ainda que seja verdade, como sugere o exame de DNA providenciado às pressas e cujo resultado saiu em tempo recorde, os Estados Unidos e o mundo não estão livres das punições dos seguidores do morto-vivo, que já devem estar a caminho, a menos que o papa-beato João Paulo II, a quem o milagre da morte daquele que seria a reencarnação do diabo foi atribuído, seja mais caridoso com a humanidade e interceda por nós.
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