domingo, 15 de maio de 2011

A morte ressuscitou Bin Laden


Por Catiane Magalhães


Soa paradoxal, mas não é. Tem gente que precisa morrer para viver. Neste caso, para reviver no mundo midiático, onde diariamente toneladas de fatos e factóides surgem e desaparecem com a mesma velocidade, bem como seus protagonistas.

Osama Bin Laden é um desses que a morte o ressuscita. Explico: quando ele já havia praticamente morrido no imaginário das pessoas, por se achar que há muito ele estivesse morto de verdade, eis que vem os Estados Unidos e o traz de volta para as telas e capas dos principais noticiários do mundo. O irônico é que esta mesma imprensa já o teria matado ainda em vida, se é que me entendem.

Por isso, em tempos de acontecimentos pouco relevantes para os noticiários nacional e internacional, o desencarno real de Bin Laden é prato cheio para os veículos e banquete para consumidores de notícia.

A verdade é que a morte por si só já desperta interesse na humanidade, seja pelo medo que ela causa, seja pela certeza de não poder escapar dela. Quando a ‘vítima’ é ninguém menos que o homem mais procurado do planeta, ela é sinônimo de audiência garantida.

Nunca na história do mundo um assunto foi tão abordado nos veículos de comunicação e nas redes sociais. O episódio ganhou uma edição extra do Plantão da Globo, interrompendo a programação do fim do domingo, para o pronunciamento oficial do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciar o resultado da operação que pôs fim à caçada da década.

No dia seguinte, não se falava em outra coisa. A lua de mel do príncipe recém-casado e qualquer outro assunto perdeu a importância diante da mais fresca notícia. A edição do principal telejornal do Brasil, o JN, foi toda dedicada ao acontecimento. Nem mesmo a tragédia de Realengo mereceu tanta exclusividade na bancada do casal global, só para citar um atentado mais próximo e recente.

E o padrão global não deixou nada passar. O fato foi explorado em todos os enquadramentos e enfoques possíveis e imagináveis, desde o início: o atentado de 11 de setembro ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington, até o desfecho da operação, em uma casa de porte médio, anunciada como mansão para a realidade da cidade paquistanesa Abbottabad.

Mais que a morte em si, o que surpreendeu foi a localização esconderijo. Enquanto o mundo inteiro imaginava que homem mais procurado do mundo vivia (se é que tinha vida) em cavernas e montanhas entre a fronteira do Paquistão com o Afeganistão, o temido terrorista estava há poucos metros de uma área militar do Exército paquistanês. Como bem disse um analista americano, ele estava escondido à vista de todos.

O que chamou atenção, entretanto, foi o desencontro de informações nas mais diversas versões apresentadas pela Casa Branca. Primeiro noticiou-se uma operação marcada pela resistência e troca de tiros. Depois, anuncia-se que o homem mais temido do mundo não teve tempo de se defender porque estava desarmado. A identidade de todos os mortos também não ficou clara. A primeira divulgação dava conta de que dois homens, um filho e a esposa estariam entre as vítimas. Mais tarde a essa mesa esposa migrou para a lista de feridos, sendo atingida por tiros nas pernas.

Não demoraram a circular na internet fotos do que seria o corpo de Bin Laden morto, mas tão logo a falsificação das imagens foi descoberta, aumentando ainda mais as dúvidas sobre a veracidade da operação. Os questionamentos são múltiplos: como é possível invadir o espaço aéreo de um país sem ser notado? Como foi tão fácil e rápido executar todo o plano sem chamar atenção?

E as suspeitas só aumentaram na medida em que os Estados Unidos se contradiziam e recusavam a apresentar imagens da operação. Para a lei, sem corpo não há crime, e trataram logo de dar fim a este, jogando-o no mar da Arábia, conforme anunciado pelos Estados Unidos, que se defendeu dos futuros castigos dizendo que respeitou todos os rituais do Islã antes da cerimônia.

A justificativa não convenceu. Nem aos que comemoraram, nem aos que lamentaram. Afinal, quando se ganha o troféu o mais óbvio é exibi-lo e não ocultá-lo. E ainda que seja verdade, como sugere o exame de DNA providenciado às pressas e cujo resultado saiu em tempo recorde, os Estados Unidos e o mundo não estão livres das punições dos seguidores do morto-vivo, que já devem estar a caminho, a menos que o papa-beato João Paulo II, a quem o milagre da morte daquele que seria a reencarnação do diabo foi atribuído, seja mais caridoso com a humanidade e interceda por nós.

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