
Por Catiane Magalhães
Diante das tragédias locais, regionais, nacionais e até internacionais que pautaram os noticiários ao longo da semana, ouvi uma velha e conhecida, porém detestada, frase: “notícia ruim rende e vende mais”. Até aí tudo bem, pois sei do sucesso que tais notícias fazem entre os seus consumidores.
O que verdadeiramente me irritou foi o complemento de mau gosto: “jornalistas têm predileção a isso, não é?” – frase já dita, inclusive, pelo presidente Lula –. E sem qualquer pontinha de corporativismo digo que isto é uma grande inverdade e injustiça com nós que narramos, mas não fabricamos fatos.
Além disso, embora às vezes não pareça, a ditadura há muito já terminou e hoje cada um escolhe o que vai levar para casa, através das páginas de revistas e jornais impressos ou da telinha do computador e da Tv. Para isso, existe a democracia e o livre-arbítrio para optar pelas diferentes linhas editoriais dos milhares de veículos de comunicação que estão ao nosso alcance. Cada um consome o que se identifica e se identifica com aquilo que consome.
Mas, uma coisa não se pode negar: de fato, as tragédias, sobretudo as provocado pelas chuvas, dão uma certa tranqüilidade ao repórter, já que são pautas garantidas. Mas verdade seja dita e justiça seja feita, tais notícias agradam e beneficiam muito mais a certos políticos que a nós jornalistas. Me desculpe as raras exceções, mas os oportunistas de plantão são mestre em tirar proveito das desgraças e transformá-las em palanque eleitoral, trocando cestas básicas e materiais de construção por votos.
Em ano de campanha, benditas sejam as más notícias. As mesmas que alimentam a imprensa, garantindo a esta suas manchetes, também colocam em evidência os candidatos que se dispõe a posar de bons e solidários moços, durante breves visitas in loco, com direito a promessas e anúncios de envio de quantias que lhes garantam mais visibilidade que a solução do problema.
Talvez isso explique a preferência em adotar medidas emergenciais às definitivas, pois extinguir o problema significa também eliminar a possibilidade de comprar votos e posar como 'o salvador da pátria'. E por falar nisso, por que será que a tragédia no Haiti comoveu mais autoridades brasileiras que o desastre no Morro do Bumba, em Niterói, a ponto de deslocarem para aquele país e anunciar publicamente, diante das câmeras da imprensa do mundo inteiro, ajuda aos pobres e desvalidos de lá?
A resposta eu sei de cór: porque resolver o problema alheio é mais fácil que os nossos, já que estes nos colocam na difícil situação de identificar culpados e, principalmente, soluções. E neste caso, se aplica a velha máxima popular: “o que não tem remédio, remediado está”.
Aos que me dizem que, em jornalismo, notícia ruim rende e vende mais, eu respondo: em política, panela vazia de pobre é prato cheio, e urna também!
Nenhum comentário:
Postar um comentário