domingo, 4 de abril de 2010

Mais do Mesmo...

Por Catiane Magalhães


Definitivamente o ano não começa em primeiro de janeiro. Não no Brasil, com sua diversidade de calendários. Na Bahia, por exemplo, o réveillon só chega após o carnaval, e engana-se quem pensa que somos o único povo retardatário. Na televisão brasileira (leia-se Rede Globo) o ano só começa em abril, com o anúncio da grade de programação dos seriados, novelas e filmes – tão inéditos, quanto o RC Especial nas noites de 24 de dezembro – que serão exibidos até o final do ano, que há muito deixou de ser novo.

E por falar no rei, ficou por conta dele a estréia da programação de 2010 da emissora líder em audiência no País. Depois de quatro meses assistindo a reprises, melhores momentos ou a programas inteiramente iguais aos do ano passado, a Globo exibe, em primeiro de abril, o Emoções Sertanejas. Coincidência ou não, a releitura do RC Especial de Fim de Ano mais parecia uma piada de mau gosto para a data, bastante propícia, diga-se de passagem.

Como sempre, convidados interpretando as mesmas canções, as mesmas emoções. Desta vez, um detalhe faz a diferença: sai as musas do Elas Cantam Roberto e entram as duplas sertanejas para, com o ritmo homônimo, darem nova roupagem às suas músicas que já foram cantadas e recantadas em todos os tons e notas, inclusive pelo próprio ex-integrante da Jovem Guarda.

A troca dos personagens, entretanto, não fez a versão parecer menos familiar. Pelo contrário, as cantigas, os convidados e, é claro, a presença do homenageado, causou, pelo menos na minha cabeça, uma grande confusão. Por um breve instante fiquei na dúvida se ficaria à espera de Papai Noel ou do Coelhinho da Páscoa.

Passado o momento da incerteza, que só se foi após uma ligeira conferida no meu calendário de cabeceira, lembrei de uma música de Renato Russo que descreveria com precisão a minha sensação naquela ocasião: “Sempre mais do mesmo, não era isso que eu queria ouvir”!

Pior mesmo foi a sensação experimentada de aguardar quatro meses para ver o ano novo da Globo começar e achar que voltei no tempo, apenas com o auxílio do aparelho de TV. Justo eu, que se pudesse embarcar numa máquina com tal poder, pediria para ver o amanhã, o mês e, quem sabe, o ano seguinte.

E pegando o gancho no espiritismo, que tem pautado a emissora, com direito a documentários, reportagens, novelas e divulgação do filme sobre a vida do médium Chico Xavier, o tema também não poderia escapar aos meus comentários. Os adeptos que me perdoem, mas não consigo compreender que diabos levam uma pessoa a se submeter à regressão para descobrir, sem opção de alterar, o que já passou.

Ainda como o aniversariante da semana, Renato Russo, eu prefiro insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que ainda não vi à ser telespectadora desse museu de grandes novidades, se me permitem citar o também poeta, igualmente morto, Cazuza.

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