domingo, 4 de abril de 2010

O show da vida...

Por Catiane Magalhães

O slogan é do fantástico, mas veio a calhar na semana em que o País inteiro parou diante da televisão para acompanhar cada minuto, cada detalhe, do julgamento do casal Nardoni – agora condenado pelo assassinato da pequena Isabella. Um batalhão de repórteres, câmeras, microfones e gravadores dividiram o espaço com outra multidão de anônimos curiosos, que encontraram ali um palco para ter seus míseros cinco minutos de fama, afinal o acontecimento tornou-se uma espécie de reality show mais vigiado do momento.

A imprensa cumpriu, e muito bem, o seu papel. Todos os noticiários – televisivos, impressos, radiofônicos e eletrônicos, davam informações do caso, atualizadas a todo o momento. A troca de olhares dos acusados, um suspiro da mãe da vítima, a afirmação de uma testemunha, nada escapou às lentes das câmaras que se voltaram para o Fórum de Santana, zona Norte da capital paulista. O crime que chocou o Brasil contou até com o apoio de novas ferramentas tecnológicas para ser transmitido e comentado, em tempo real, pelo Twitter.

Durante uma semana inteira o assunto era o principal destaque, para o alívio dos corruptos de plantões que tiveram aí uma folga e caíram num breve esquecimento. Mas o que chamou, de fato, a minha atenção para a cobertura foi a espécie de espetáculo em que transformaram o episódio. Enquanto repórteres narravam um clima tenso dentro da sala do tribunal, as imagens externas mostravam o comportamento paradoxal da população, que, escondida atrás de cartazes e pedidos de justiça, queriam mesmo era veicular sua imagem em rede nacional, com exceção, é claro, de uma meia-dúzia que realmente se compadeceu com sofrimento da vítima e da mãe dela – a maioria motivada pelo instinto materno.

Afora essa minoria, o que se viu na porta do Fórum de Santana foi uma espécie de carnaval fora de época, com gente fantasiada, mascarada e de cara pintada, num só coro por justiça. No entanto, as mensagens mostradas eram: “Filma eu”, “Julgamento de Isabella, eu fui!”, “Mãe, olha eu aqui”.

E como brasileiro é criativo, teve de tudo: desde Cristo carregando uma pesada cruz à aspirante a escritor, que levou seus livros para divulgar e comercializar no local. Este último, um baiano, radicado em São Paulo há anos. Em entrevista, ele confessou ter procurado todas as emissoras para tornar público o seu trabalho e como não conseguiu resolveu ir ao julgamento, onde encontraria toda imprensa num só lugar.

Em meio à polêmica sobre a decisão do juiz em manter Ana Carolina Oliveira isolada para uma possível acareação com os assassinos da sua filha e às explicações da defesa, eis que surge a avó materna da vítima, dona Rosa, (mãe da própria Carolina) acenando para a platéia com sorrisos, beijinhos e tchauzinhos, como se fosse ela uma celebridade.
E por já estarmos acostumados com essas inversões de papéis e valores, achamos normal o comportamento daquela senhora diante das câmaras e dos “fãs”, pois naquele momento ela era mesmo uma celebridade, disputada pelas emissoras para dar uma palavrinha apenas. E assim o fez prontamente: atendeu a todos os pedidos de entrevista e finalizava sempre exibindo a tatuagem com o nome da neta no braço.

Após longos cinco dias de angústia pela espera de um resultado que fosse favorável para a população sedenta por justiça, ou seja, pela condenação dos réus, que posteriormente seria comemorada com muita música, dança, gritos e fogos de artifícios, finalmente sai a sentença esperada. Pai e madrasta são considerados culpados e voltam para a prisão. O julgamento termina, o show lá fora, não!

A disputa pelo microfone e pelas câmaras é ainda maior entre os anônimos que aguardavam – entre eles, muita criança, principalmente de colo, que não entendiam o que se passava e muito menos o que estavam fazendo ali, durante todo aquele tempo –.
Entre as poucas palavras proferidas após o veredicto, a defesa se recolhe e reconhece que “o brilho da noite foi todo da promotoria”. Sim, o advogado Roberto Podval estava atribuindo ao promotor Francisco Cembranelli, e não ao trabalho desempenhado por este, um estrelismo.

Diante de tudo isso, a mais sensata e reservada foi a própria Ana Carolina. Envolvida por sua dor, ela disse, numa das suas poucas aparições, que apesar de tudo que aconteceu durante a semana e da justiça ter sido feita nada traria a sua estrela Isabella de volta.

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